segunda-feira, 21 de junho de 2010

A moeda do imposto

Positivamente, aquela última terça-feira da vida pública de Jesus ia se tornando para os fariseus um dia de derrotas, cada qual mais vergonhosa.
Já não se atreviam a discutir com o Nazareno em campo raso, na certeza de que, no fim, lhes caberia farta conquista de risos e zombaria.
Resolveram, pois, mudar de tática e tratar o rabi de Nazaré com requintes de amabilidade.
Nesse mesmo dia formaram os fariseus uma comissão especial composta de discípulos deles e de alguns herodianos, afim de consultar a Jesus sobre: a questão do imposto.

Eram bem heterogêneos os elementos que compunham a comissão: os fariseus representavam o partido nacional-relegioso; ao passo que os herodianos defendiam as idéias do tetrarca da Galiléia e Peréia, lutando por um soberano da dinastia de Herodes. Mas, ainda que inimigos entre si, harmonizavam num ponto: no ódio ao Nazareno; uns e outros estavam convencidos de que era tempo para destruir definitivamente o prestígio daquele homem. Dignos comparsas de Pilatos e Herodes que, na sexta feira próxima, fariam as pazes cimentadas pelo sangue de Jesus...

Aproximaram-se, pois, do Mestre os emissários dos dois partidos, e, depois de uma série de cortesias e reverências, apresentaram-se a ele como homens que vinham em causa própria, como Espírito retos que, num mundo de mentira e bajulação, vinham procurar a pessoa do profeta de Nazaré como último refúgio e derradeira âncora de salvação.

- Mestre - dizem eles - nós sabemos que tu és amigo da verdade, que não fazes acepção de pessoas; que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade.
Depois dessas palavras ternas vem repentinamente a pergunta clara e breve:
- Dize-nos: é lícito pagar imposto a César ou não? Temos de pagar ou não?
"É lícito" - diziam eles, como se tivessem consciência tão delicada e receassem cometer pecado.
- Dize-nos: é lícito pagar imposto a César ou não?

Se Jesus dissesse: "É lícito", "deveis pagar", seria por eles censurado como inimigo do povo e traidor de Israel; pois a questão do imposto que os judeos pagavam ao dominador estrangeiro era uma das mais dolorosas chagas de que sangrava o organismo social de Israel.

Se Jesus dissesse que não era lícito, nem havia obrigação de pagarem imposto a César - aí estavam os herodianos relacionados com o governador romano, que não perderiam a oportunidade para denunciar o Nazareno como revolucionário. Os romanos, tão tolerantes em outros pontos, eram rigorosos em matéria de imposto; e, tratando-se de um galileu, crescia de ponto a sua desconfiança, porque ainda estava na memória de todos a "greve tributária" que o famoso Judas Galileu organizara, não havia muito, contra a opressão dos poderosos de Roma.

Os emissários dos dois partidos divertiam-se antecipadamente em face do terrível dilema.
Jesus, porém, sereno e calmo disse:
- Mostrai-me a moeda do imposto
Os olhos de Jesus pouzaram na moeda de prata, mas os seus dedos não a tocaram.

O chamado "denário do tributo" era uma moeda que ostentava no anverso a efígie do imperador reinante, ou de um membro da família imperial; e no reverso uma figura simbólica. Os príncipes nativos da Palestina tinham o direito de criar moedas de cobre, com figuras de plantas e animais, ao passo que a criação de moedas de ouro e de prata era direito privativo dos dominadores romanos. O imposto oficial só era pagável nesta moeda argêntea, chamada por isso "moeda do tributo", como lembra expressamente Mateus, o ex publicano, habituado a lidar, na coletoria, com esses valores oficiais.

No tempo em que se deu este episódio, governava o império romano Tibério César. A moeda, que a comissão dos consulentes apresentou a Jesus e que os olhos dele contemplaram por uns momentos levava num lado a imagem do dito soberano com a inscrição: TIBERIUS CAESAR AUGUSTUS, DIVI AUGUSTI FILIUS ( Tibério César augusto, filho do divino Augusto). Do outro lado via-se a figura completa do soberano, sentado, e o título: PONTIFEX MAXIMUS ( Pontífice Máximo).
- De quem é esta imagem e a inscrição? - perguntou Jesus.
- De César - responderam eles, sem nada suspeitar.
Tornou-lhes Jesus, no mesmo tom indiferente e calmo:
- Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Os emissários permaneceram perplexos... Também, que haviam de replicar? Se eles mesmos tinham sacado da cinta aquela moeda, confessando com isto que, de fato, usavam dinheiro romano e assim se confessavam súditos de Tibério César - nada mais havia que decidir! A decisão que os consulentes pediam a Jesus já eles mesmos a tinham dado praticamente.
Faltava só renderem também ao soberano dos céus o que de direito lhe competia. É o que lhes diz o Mestre, sem ser solicitado: a resposta era, pois, mais cabal do que a pergunta.

Que aconteceu depois desta cena?

"Eles, quando ouviram isto, não sabiam que replicar, e admirados da resposta de Jesus, calaram-se e foram embora."

3 comentários:

  1. Eles não se cansavam de querer pegar Jesus pelas palavras rssr
    Bom texto meu amigo. Paz!

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  2. Graça e paz!


    Agradeço muito a visita e o comentário!
    Volte sempre que possivel! É uma grande honra!

    Abraços..

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  3. Deus o abençoe Rodolfo, por disseminar A Palavra de Deus. Amei o texto.

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